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QUARTETO CASALS. GULBENKIAN, LISBOA

20.04.13

expresso

QUARTETO CASALS. GULBENKIAN, LISBOA

Ana Rocha

Schubert abriu as portas da música ao infinito pela sua forma de tornar real uma matéria sonora que seja em suprema ligeireza seja em violência obstinada teima em ficar no ouvido com modulações que em horizonte longínquo aludem a canções de embalar.

Já Schumann chamava a atenção para a capacidade de Schubert esticar até ao ilimitado a tensão na sua exploração de mundos desconhecidos classificando o que considerou como a faceta sobrehumana do músico austríaco. Pois esta música visionária liberta das contingências temporais e da economia formal uma música sem confins foi interpretada em Lisboa pelos instrumentistas do Quarteto Casais.

Tudo foi interessante e cativante nos seis espetáculos iniciados a 11 de outubro de 2012 do agrupamento fundado em Madrid em 1997 que trouxe consigo os 15 quartetos para cordas de Schubert que chegaram até aos nossos dias juntando aos seus programas na última data mais uma peça de Schubert o Quinteto em Dó Maior D 956 e ainda um par de obras de Boccherini: o Quarteto op 32 n° 5 e o Quintetoop 30 n° 6 extraído da Musica notturna delle strade di Madrid. O Quarteto Casais revelou o seu lado mais lúdico com o minuetto de Boccherini oferecido em extra no derradeiro recital. Depois da interpretação de uma das obras primas de Schubert o Quinteto D 956 que integrou um dos fundadores do Quarteto Artemis o violoncelista alemão Eckart Runge a miniatura de música de corte de Boccherini interpretada com muita "panache" pelos Casais assemelhou se a afável sorriso no filme célebre The Ladykillers.

O Quinteto Era de Cordas que projetou mundialmente esta peça do músico italiano o tema acompanhava a delirante comédia negra protagonizada por Alec Guinness e Peter Sellers. Os 52 minutos do Quinteto em Dó maior puseram o público sem respiração a assistir ao exuberante duelo entre o violoncelo de Runge e o violino de Vera Martínez em momentos de exacerbada sensibilidade. Dinâmica, equilíbrio, texturas muito plásticas de cordas e ciência da ordenação das vozes de cada um dos instrumentos garantiram aos músicos espanhóis um notável sucesso.